domingo, 9 de dezembro de 2018

A saúde física e mental do trabalhador - Parte 5: Considerações sobre a saúde mental no ambiente de trabalho

Essa é a quinta e última postagem da nossa série sobre a saúde do trabalhadorAqui fazemos uma pequena conclusão sobre o que discutimos ao longo desses textos: como as considerações históricas que permeiam o tema; algumas reflexões sobre as questões trabalhistas e a importância da Psicologia ter seu espaço neste meio, para evitar a propagação do sequestro da subjetividade no ambiente de trabalho, e a saúde do trabalhador ainda mais comprometida; e buscamos fazer um pequeno paralelo sobre algumas questões pertinentes sobre o trabalhador brasileiro e o trabalhador japonês, para que pudéssemos sair um pouco daquilo que estamos habituados, explorando uma outra cultura que está ao mesmo tempo muito próxima e distante de nós.


CONSIDERAÇÕES SOBRE A SAÚDE MENTAL NO AMBIENTE DE TRABALHO

When they’ve tortured and
scared you for twenty-odd years
then they expect you to pick a career
when you can’t really function
you’re so full of fear
A working class hero
is something to be

Working Class Hero, John Lennon


O homem não existe sem o trabalho e sua relação com o mesmo está diretamente ligada à sua saúde física e mental, pois trabalhar possui correlação com a qualidade de vida e não existe separação entre saúde física e mental. À vista disso, tentamos dissertar sobre alguns aspectos provenientes dessa indissociação entre saúde física e mental, que podem estar presentes, ainda que de forma não tão visível, em qualquer lugar. 
Quando buscamos no dicionário o termo “trabalho”, encontramos em sua definição o seguinte: trabalho se trata de um conjunto de atividades realizadas onde há um esforço feito por um grupo de indivíduos que possuem um objetivo e uma finalidade em comum. No entanto, é sabido que as organizações em sua intenção de atender às crescentes exigências do capitalismo, o tal “objetivo em comum”, sequestram a subjetividade do trabalhador através de um imaginário coletivo que, por meio de artimanhas imperceptíveis, fazem com que ele se torne um escravo de configurações tóxicas que levam ao adoecimento, tanto do corpo quanto da psique. 
Buscamos fazer um pequeno paralelo entre duas culturas extremamente opostas, onde o funcionamento das condições de trabalho divergem daquilo que conhecemos, causando até mesmo um certo choque quando realizada a comparação dessas diferentes situações que ocorrem do outro lado do globo. 
Pode-se perceber a grande necessidade de haver uma mudança no pensamento empresarial, afinal, apenas uma modificação na mentalidade cultural de uma organização possibilitaria a criação de programas que beneficiariam a saúde mental do trabalhador. Isso só se tornaria possível a partir do momento em que as empresas deixassem de enxergar seu colaborador como apenas uma ferramenta em suas mãos. 
Desde a antiguidade está claro que as exigências não estão de acordo com as habilidades do profissional, o que causa sofrimento, fazendo-o ter a sensação de ser incapaz de resolver os problemas rotineiros no trabalho. Cada indivíduo possui recursos próprios para mudanças e adaptações, mesmo que o ambiente seja desfavorável, mas estão adoecendo em consequência de fatores desencadeantes proporcionados pelas organizações. 
A condição humana no ambiente de trabalho traz consigo o modelo taylorista-fordista onde o aumento da produtividade traz precariedade para a saúde do homem. Para resultados positivos, o equilíbrio psicológico do trabalhador deveria ser o elemento fundamental para dignificar o homem, como humano, e afastá-lo das doenças, tanto físicas quanto mentais, e não ser considerado pela máxima calvinista de que “é o trabalho que dignifica o homem”.

Modern Times, Charles Chaplin (1936)

Postagens anteriores sobre a série A saúde física e mental do trabalhador:

É sabido que em ordem de sobreviver na sociedade capitalista, o homem precisa trabalhar e, em virtude disso, sabemos também que a sua relação com o trabalho está diretamente ligada à sua saúde física e mental, que não se separam, pois há nessa atividade toda uma correlação com a qualidade de vida de um indivíduo. À vista disso, planejamos uma série de postagens recortadas de um trabalho apresentado à disciplina de Processos de Gestão do Trabalho do 6º período do curso de Psicologia, onde discutimos um pouco sobre o sequestro da subjetividade e a saúde do trabalhador, não só no Brasil, mas também no Japão, para que juntos possamos refletir e expandir nosso conhecimento sobre uma outra realidade tão distante da nossa. Nessa primeira postagem da série, trazemos algumas considerações históricas sobre como a saúde do trabalhador era vista e seu processo de mudança.
Nesse texto, trazemos algumas considerações sobre como o ambiente de trabalho pode, por vezes, roubar o sujeito de sua individualidade, fazendo com que ele assuma uma identidade predominante de um grupo. Damos à esse fenômeno o nome de sequestro da subjetividade.
Nesse texto, iniciamos as nossas reflexões acerca das diferentes condições de trabalho ao redor do mundo, começando com o Brasil, que apresenta uma grande disparidade social, onde nem todos os programas de qualidade de vida e empregatividade estão ao alcance da população. Nas próximas postagens, seguiremos falando um pouco sobre o conceito de promoção das condições de trabalho seguras e saudáveis está muito distante do compromisso ético para com o sujeito em outros culturas diferentes da nossa.
Nesse texto, vamos lá para a outra extremidade do mapa e falaremos um pouco sobre a realidade do trabalhador no Japão. A cultura japonesa é muitas vezes ovacionada devido ao seu comprometimento desmedido com o trabalho, algo apoiado pelo universo corporativo e enxergado de maneira positiva. No entanto, as altas taxas de suicídio e mortes decorrentes do excesso de trabalho apontam para uma realidade bastante obscura dentro desse povo que está mais próximos de nós do que nos damos conta, pois hoje o Brasil possui o maior número de imigrantes e descendentes nipônicos, além das diversas grandes empresas japonesas espalhadas pelo país.

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COMO CITAR ESTA POSTAGEM

FERREIRA, A. C. C.; PEREIRA, J. K. A saúde física e mental do trabalhador - Parte 5: Considerações sobre a saúde mental no ambiente de trabalho. Curitiba, 09 dez 2018. Disponível em: <https://psiqueempalavras.blogspot.com/2018/12/a-saude-fisica-e-mental-do-trabalhador-5.html>

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