Esse trabalho foi realizado no quarto período para a disciplina de Psicologia Analítica. Se trata de uma síntese dos capítulos I, II e II do livro “O Espelho Índio” de Roberto Gambini, onde o autor aborda o conceito de projeção na abordagem analítica. Na sequência, realizamos uma análise do filme “A Dúvida” que será o tema da próxima postagem.
O CONCEITO
DE PROJEÇÃO NA PSICOLOGIA ANALÍTICA SEGUNDO ROBERTO GAMBINI
Segundo
Gambini (1988) a teoria freudiana sobre a projeção, termo emprestado da
neurologia, seria um mecanismo de defesa relacionado à repressão e ilusão
paranóica que apresenta distorção da realidade, onde o ego não é capaz de lidar
com um determinado conteúdo que o incomoda e então este conteúdo é reprimido do
campo consciente, também implica em atribuir a terceiros elementos que se
encontram na própria pessoa e que ela possui dificuldades em aceitá-los como
seus, como sentimentos de hostilidade e atitudes agressivas ou desejos sexuais
reprimidos, representando assim externamente um conteúdo interno, mas de forma
distorcida, protegendo o ego de tais impulsos. A projeção, para a psicanálise,
estaria atribuída à função de elaboração de uma visão psicótica da realidade. Todo
o simbolismo contido em crendices, superstições e no folclore, para Freud
também não passavam de impulsos reprimidos de caráter cruel e hostil, enquanto
que esses simbolismos na realidade possuem rico material significativo de
expressão do inconsciente coletivo, mas Freud deixou esses conceitos de
superstições positivas de lado, pois sua preocupação estava nas manifestações
mal intencionadas escondidas no inconsciente. Desse modo, também se afirmaria
que a paranóia e o processo de formação dos sonhos possuem similaridade entre
si, sendo esta a conclusão de Freud sobre os sonhos, o sonhar é um ato
narcísico, onde a libido se volta para o ego a fim de satisfazer os desejos
reprimidos de forma alucinatória, sendo então o sonho uma projeção que
externaliza um processo interior, todo sonho conteria elementos distorcidos
frutos de censura.
Para
Gambini (1988), não se encontra nas obras de Jung uma definição específica de
projeção, ainda que o seu conceito apareça em diferentes contextos de maneira
consistente em todo o seu trabalho. Para Jung a projeção não estaria associada
à repressão nem a algo diretamente patológico, ela seria para ele um evento
intrínseco à psique humana. Através da projeção, conteúdos do inconsciente vêm
à tona, ocorrendo de modo involuntário, assim sendo, o indivíduo não tem como
saber quando uma projeção está ocorrendo e não pode produzi-la voluntariamente
ou impedi-la de acontecer, ele pode no máximo reconhecer algo que em um
primeiro momento parecia pertencer ao objeto, na realidade, pertence a ele
próprio, mas isso nem sempre acontece dessa forma. Aquilo que é desconhecido
estimula o acontecimento da projeção, pois ela se coloca diante do observador
como algo diferente da realidade, este conhecimento ajudou Jung na compreensão
do sentido da alquimia. No fenômeno da projeção o ego não é projetado, mas sim
o inconsciente, ocorrendo nas lacunas dos pensamentos, se formando como a
consciência que o homem tem do mundo, o que desencadeia este fenômeno seria um
“complexo autônomo”, posto que os conteúdos devem ser aceitos como reais, ora
se tornaram manifestações vistas como “verdadeiras” para o mundo exterior. À
vista que a projeção trará um relacionamento irreal com o espaço, o tornando
inalcançável, ao passo de que quanto maior a quantidade de projeções, maior
será a dificuldade de enxergar a realidade, afinal todo o indivíduo tende a
crer que o mundo seja da forma como imagina e não há um teste de realidade que
venha a provar o que é projeção e o que é real. Os conteúdos projetados podem
superestimar o valor do objeto em questão, sem perceber que a “imago” (imagem)
pertence a si próprio. A empatia também está relacionada com a projeção, pois o
indivíduo se sente no objeto, já a abstração seria uma projeção negativa e
ameaçadora. Entende-se que quando duas pessoas constelam o mesmo complexo
ocorre uma projeção, resultando em atração ou repulsa mútua. Para Jung não se
usa o termo repressão, afinal estes conteúdos sequer chegaram à consciência ou
desapareceram. A projeção simplesmente ocorre, ela não é feita de modo
consciente, deixando a visão do indivíduo reduzida, não o permitindo ver com
clareza o outro. Para que haja a projeção é necessário que o objeto seja
lançado e possua algo que o retenha se constituindo como um “gancho”, o objeto
em questão deverá aceitar ou não a projeção, esta problemática está ligada à
projeção de anima e animus. Nos quatro estágios da projeção, o primeiro
refere-se a uma equivalência entre o mundo interno e o mundo externo, enquanto
o segundo fala sobre a separação entre a natureza e o homem, separando o objeto
concreto do conteúdo inconsciente, já o terceiro menciona a questão moral, onde
se vê a projeção como algo irreal e mal intencionado, por fim o quarto estágio
diz que a psique inconsciente é responsável tanto pelo homem, como por sua
realidade física.
Gambini
(1988) mostra que através de um procedimento auto-reflexivo pode-se descobrir o
que está por trás da projeção, porém não se aplica a todos, desta forma as
projeções podem ou não ser um caminho para a sabedoria. Um conteúdo não perde a
sua veracidade apenas por ter sido projetado, afinal sua autenticidade está no
campo psíquico, sendo a psique a “realidade por excelência”. Os estudos de Jung
dedicados a alquimia revelam elementos sobre a consciência coletiva, uma
questão que só poderia ser trabalhada de modo inconsciente pela projeção,
quanto mais primitivas forem às projeções, maior será o valor heurístico que
elas possuem. Para lidar com o material inconsciente é necessário possuir
conhecimento, deixando de lado opiniões subjetivas.
REFERÊNCIA
GAMBINI, Roberto. O espelho índio: a formação
da alma brasileira. 2ª edição, São Paulo: Axis Mundi, 1988.
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COMO CITAR ESTA POSTAGEM
FERREIRA, A. C. C. & PEREIRA, J. K. O conceito de projeção na Psicologia Analítica segundo Roberto Gambini. Curitiba, 20 mar 2017. Disponível em: <http://psiqueempalavras.blogspot.com/2017/03/o-conceito-de-projecao-na-psicologia.html>. Acesso em: (dia). (mês). (ano).
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