terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Breves apontamentos sobre a Abordagem Centrada na Pessoa

Essa postagem apresenta uma breve introdução a Carl Rogers, o idealizador da Abordagem Centrada na Pessoa, escrito por Alessandra Ferreira, e uma síntese do capítulo “Os fundamentos de uma Abordagem Centrada na Pessoa” do livro “Um jeito de ser” de Rogers, escrito por Jhéssica Pereira. Esses escritos foram produzidos para a disciplina Teorias e Técnicas Psicológicas: Abordagem-Humanista A do curso de Psicologia.



BREVES APONTAMENTOS SOBRE A ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA

Quem foi Carl Rogers

O capítulo “Este sou eu” (pp. 03-32) presente no livro “Tornar-se pessoa” de Carl Rogers (2017) — fundador da Client-Centered Therapy (Abordagem Centrada na Pessoa) — busca apresentar o autor e sintetizar algumas de suas perspectivas pessoais baseadas em sua experiência como psicólogo clínico e nos temas filosóficos significativos para ele.
Ao longo de sua experiência, Rogers percebeu que muitos são os tipos de pessoas que passam pelo consultório de um psicólogo e, consequentemente, muitos são os sentimentos compartilhados neste espaço. As pessoas passam por processos talvez semelhantes através de uma perspectiva teórica, mas sempre irão experimentar e expressar suas experiências de um modo único e autêntico e o psicólogo será um auxiliar nessa caminhada rumo ao autodescobrimento de cada um frente. E neste capítulo ele busca mostrar como suas raízes tiveram influência nessa percepção.
Rogers foi o quarto de seis filhos, criado em uma família rigorosa em vários aspectos, seus pais eram religiosos, um tanto controladores, prezavam muito o trabalho duro e uma vida virtuosa (longe de bebidas, drogas, jogos, namoros, etc), mas eles também sabiam ser afetuosos e preocupados com o bem-estar de todos. Sua infância foi bastante solitária, principalmente quando seus pais se mudaram para uma fazenda, onde Rogers desenvolveu interesses que empregaram um papel importante em seu trabalho. O mais importante foi seu interesse por borboletas noturnas, que o levou a desenvolver também o seu interesse pelo método científico.
Muitos acontecimentos de sua vida influenciaram Rogers em sua trajetória, mas ao abandonar a vocação religiosa, ainda que seu interesse por questões religiosas permanecesse com ele, foi o que o levou a direcionar seu interesse para a psicologia e a psiquiatria. Ele passou a seguir os cursos no Teacher’s College da Universidade de Colúmbia, arranjou um trabalho na área de filosofia da educação e iniciou suas práticas orientado crianças. Ainda no Teacher’s College, ganhou uma bolsa para trabalhar no Instituto para Orientação da Crianças patrocinado pelo Commonwealth Fund, esse trabalho o atraiu bastante e logo ele estava trabalhando na área da psicopedagogia e considerando a psicologia clínica.
Em dado momento, Rogers precisou encontrar trabalho para poder dar conta do doutorado e foram tempos difíceis, devido à escassez de empregos, até que finalmente foi contratado como psicólogo no Child Study Department da Associação para a Proteção à Infância em Rochester. O trabalho em si não era dos melhores, mas como seu interesse era maior que as condições oferecidas, ele aceitou de bom grado. Este período foi considerado por ele como um período de isolamento profissional, em que ele experimentou muitas frustrações, mas ajudou a adquirir uma grande experiência prática.
Rogers fez algumas descobertas enquanto esteve neste trabalho. Durante a graduação, havia se atraído pelas obras do Dr. William Healy, autor que acreditava que a delinquência estava ligada a algum conflito sexual que quando resolvido, faria a delinquência cessar. Quando surgiu a oportunidade de trabalhar o caso de um jovem piromaníaco, Rogers descobriu na sequência das entrevistas que realizara com ele, que sua tendência de colocar fogo nas coisas se ligava a um impulso sexual de masturbação. No entanto, Rogers estava errado e o menino teve uma recaída assim que foi colocado em liberdade condicional. Isso o levou a perceber que qualquer teoria podia ter falhas e poderia ser aprimorada.
Outra descoberta significativa foi quando ele conduziu um grupo de discussão sobre os métodos da entrevista psicológica, utilizando-se de uma entrevista que tinha sido publicada em uma revista e que poderia ser considerada eficiente, com um bom método de condução. Anos depois, Rogers percebeu o quanto aquela entrevista era indutiva e que não era tão eficaz quando lhe pareceu no primeiro momento, era apenas coercitivo.
E uma terceira descoberta de Rogers, foi um resultado que veio anos depois, quando ele aprendeu a ser mais sutil e paciente ao interpretar o que um cliente lhe trazia, buscando compreender o que realmente se passava.  Um acontecimento o levou a ver que o próprio cliente é quem sabe de seu sofrimento, qual direção deve tomar, quais problemas são de extrema importância, quais experiências foram profundamente recalcadas.
Entretanto, a época que trabalhou em Rochester também o fez perceber que o que ele fazia ali não lhe parecia realmente ser psicologia, as reuniões que assistia da Associação Americana de Psicologia (AAP) eram cheias de conferências envolvendo processos de aprendizagem e ratos de laboratório, que não pareciam em nada com o trabalho que ele fazia, ele então resolveu direcionar seus interesses para a assistência social, retomando suas atividades como psicólogo somente quando a Associação Americana para a Psicologia Aplicada foi criada. Rogers passou a dar cursos na no Instituto de Sociologia da Universidade, falando sobre como compreender e tratar crianças difíceis, tendo, pouco tempo depois, suas aulas inclusas no currículos do Instituto de Pedagogia.
Em 1940, Rogers foi trabalhar como professor efetivo na Universidade Estadual de Ohio, devido a influência da publicação de sua obra Clinical Treatment of the Problem Child. Nessa época, Rogers se deparou com algumas resistências de outras pessoas frente às suas ideias em uma conferência que realizou na Universidade de Minnesota, mas mesmo assim isso não o impediu de publicar o Counseling and Psychotherapy, que, para ele, parecia ser uma orientação mais eficaz da terapia. Apesar das dúvidas a respeito da recepção de seu trabalho, as vendas ultrapassaram os setenta mil exemplares, para a surpresa tanto de Rogers, quanto de seu editor.
Rogers acreditava em uma relação terapêutica profunda com seus clientes, algo que pode ser ao mesmo tempo animador e alarmante, segundo ele, quando, por exemplo, alguém exigia mais do que ele era capaz de oferecer. Para ele, a prática da terapia é algo que exige um constante desenvolvimento pessoal que nunca cessa.
A investigação passou a ter mais importância ainda na vida de de Rogers. Através da pesquisa, era possível distanciar-se e enxergar a experiência subjetiva de forma objetiva, utilizando-se do método científico para validar as ideias que propunha em seu trabalho, mesmo que pudessem ser rejeitadas por alguns — até agressivamente por uns —, pois ainda assim encontraria aqueles as aceitavam.
As experiências de Rogers lhe serviram para que percebesse o ser humano em toda sua vastidão, ao passo de que ia percebendo também a si mesmo. Chegou a conclusões que depois se desfizeram, para dar lugar a novas concepções, desconstruindo pensamentos apenas para construí-los novamente, se assim fosse preciso. Acima de tudo, a prática ensinou a Rogers que o mais importante para o homem, é que ele seja honesto com seus sentimentos e com sua própria verdade e que isso tem uma valor imensamente significativo no trabalho clínico. Para ele, de nada adiantaria tentar ser algo que não se é, ninguém é beneficiado com esse tipo de postura.
Para ele, a melhor forma de ajudar ao próximo, seria aceitando-se tal como era, ao permitir-se ouvir a si mesmo, reconhecer seus sentimentos e reações diante do mundo, isso tornaria um pouco a tarefa de ouvir o outro. Perceber isso já é, por si, capaz de promover mudanças na vida de uma pessoa.
Rogers também prezava imensamente as relações reais e honestas, promovidas também por essa noção de aceitação que ele construiu acerca de si e dos outros. Era importante para ele aproximar-se dos limites da resistência, da tolerância e da aceitação disso tudo como um fato, para que assim fosse possível saber onde está o desejo de mudança. Isso envolve não somente aceitar tudo que é positivo no ser, mas também tudo aquilo que é negativo e que parece, em um primeiro momento, inaceitável.
A experiência mostrou à Rogers que as pessoas têm uma orientação que é fundamentalmente positiva. Isto é, não devemos julgar que alguém é bom ou ruim, nem partir de algum pressuposto sobre isso. O homem possui tendências para melhorar sempre e uma atitude ruim não significa que a pessoa seja essencialmente ruim. Suas palavras que melhor descrevem essas tendências são: positividade, construção, tendência à auto-realização, progresso para a maturidade e para a socialização.


Os fundamentos básicos da Abordagem Centrada na Pessoa

No capítulo “Os fundamentos de uma abordagem centrada na pessoa” (pp. 37-51) faz parte da obra de Carl Rogers intitulada “Um jeito de ser” de 1987.
Esse texto fala sobre a fundamentação da abordagem centrada na pessoa, a qual se baseia em ideias e conceitos tanto do passado como do presente. Salientando as duas tendências intrínseca ao ser humano e fundamentais a abordagem centrada na pessoa, são elas: a tendência a realização, que mostra ao indivíduo que a vida é um processo ativo, fazendo com que o organismo “pulse” de alguma maneira; e a tendência formativa, um processo complexo que ocorre de forma criativa e não desintegrativa.
Dentro da abordagem centrada na pessoa existem três conceitos primordiais, são eles: a autenticidade, a sinceridade ou congruência, como se o terapeuta se mostrasse de forma transparente a seu paciente; a aceitação, o interesse ou a consideração, a aceitação incondicional, quando o terapeuta espera que o paciente demonstre seus sentimentos do momento, e o considera de modo integral; e a compreensão empática, se constitui como uma escuta ativa e sensível do terapeuta para com seu paciente. Esses conceitos auxiliam não apenas no atendimento clínico, mas também faz com que as pessoas sintam-se mais livre, para assim poderem experimentar uma maior liberdade e verdade
integral.
Rogers ainda fala sobre a existência da tendência do organismo à autorrealização, que se caracteriza com a capacidade do indivíduo a conseguir desejar algo e trabalhar a favor desse desejo, favorecendo o crescimento do organismo, desde que seus instintos mais primordiais estejam supridos. Também menciona uma tendência mortifica, que é sempre atuante na vida de uma pessoa.
Outro fator importante para Rogers seria o da consciência. Mesmo que uma pessoa não tenha capacidade de ter total consciência de si mesmo, é importante que exista um processo que auxilie esse desenvolvimento, o que por sua vez proporcionará a capacidade de tomadas de decisões mais conscientes, fundamentadas, livres, verdadeiras e integrais, assim podendo alcançar um fluxo evolutivo. Também pode acontecer o fenômeno da consciência alterada, onde algumas pessoas acreditam que estão alinhadas ao cosmo, por exemplo, tendo experiências reais de processos transcendentes.
Por fim, Rogers relata experiências que vivenciou em grupos psicoterapêuticos de processos transcendentes, o que lhe fez questionar se até então a dimensão espiritual e mística tem sido subestimada.

REFERÊNCIAS

Rogers, C. R. (2012). Este sou eu. In C. R. Rogers. Tornar-se pessoa (pp. 3-32). São Paulo: Martins Fontes.

Rogers, C. R. (1987). Os fundamentos de uma abordagem centrada na pessoa. In C. R. Rogers. Um jeito de ser (pp. 37-51). São Paulo: EPU.

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COMO REFERENCIAR ESTA POSTAGEM

FERREIRA, A. C. C.; PEREIRA, J. K. Breves apontamentos sobre a Abordagem Centrada na Pessoa. Curitiba, 18 dez 2018. Disponível em: <https://psiqueempalavras.blogspot.com/2018/12/breves-apontamentos-sobre-abordagem.html> 

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