quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Setembro Amarelo e o trabalho do CVV

Em função do Setembro Amarelo, o mês de Prevenção ao Suicídio, trazemos hoje uma postagem informativa. Para quem não sabe, o Setembro Amarelo é uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), se trata de uma campanha que ocorre no Brasil desde 2014 buscando promover ações preventivas em relação ao suicídio, em uma tentativa de retirar o estigma em torno desta temática e trazer informação à sociedade. Hoje trazemos um pouco sobre como funciona o trabalho do CVV, onde nós duas realizamos um trabalho voluntário por algum tempo. O voluntariado no CVV nos proporcionou ricas experiências, nos sensibilizando a respeito da escuta do sujeito, expandindo a nossa visão acerca do sofrimento do outro e de sua necessidade de se expressar. 

CVV – CENTRO DE VALORIZAÇÃO DA VIDA

Historicamente, a Prevenção ao Suicídio é algo que se dá a partir do momento que alguém se dispõe a ouvir o outro com compaixão, esta prática ganhou destaque nos Estados Unidos e Europa, após a Segunda Guerra Mundial, quando pequenos grupos de pessoas começaram a se reunir para ouvir as pessoas e suas angústias. Dentre estes grupos, encontravam-se os europeus que se autointitulavam “Os Samaritanos” (Samaritans), fundado pelo Reverendo Chad Varah ganham destaque.
A iniciativa do Rev. Chad Varah ocorre quando uma jovem comete suicídio após sua primeira menstruação, pois julgava ter contraído uma doença venérea e é enterrada fora da cidade devido aos tabus da sociedade da época que não permitiam que suicidas fossem enterrados nos cemitérios comuns. Essa situação tem como efeito uma sensibilização no ainda jovem Reverendo que passa a se questionar a respeito dos motivos que levaram essa jovem a tirar a sua própria vida, concluindo que o que a levara a tal ato extremo havia sido a falta de informação e o preconceito que cercava a sociedade. Ele resolve tomar uma atitude diante disso e publica num jornal o número de telefone da igreja, propondo-se a ouvir com seriedade pessoas que estivessem com a necessidade de tratar de assuntos sérios e obteve retorno, com inúmeras ligações e até mesmo pessoas que estavam vindo de outras cidades apenas pela sua necessidade de serem ouvidas.
O Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma organização não governamental (ONG), filantrópica, sem fins religiosos ou lucrativos que visa oferecer um atendimento através de serviços voluntários e tem por finalidade o Programa de Apoio Emocional, definido pela instituição por “Escuta Amorosa” (Befriending), para aqueles que precisam conversar ou que se encontram em situação de risco de suicídio, agindo como um método preventivo com uma abordagem centrada na pessoa. No Brasil, o CVV já existe há cerca de cinco décadas, seu trabalho teve início em São Paulo em torno da década de 60 e possuía apenas um posto de atendimento que seguia os moldes da proposta realizada pelos Samaritanos. Posteriormente, se expandindo por todo o país. O CVV possui cerca de 70 postos de atendimento, contando também com o serviço de apoio via internet que oferece um alcance ainda maior de pessoas.
Existem instalações do CVV em 18 estados mais o Distrito Federal, com o apoio de aproximadamente dois mil voluntários e são realizados por ano cerca de um milhão de atendimentos. Com relação à instalação de Curitiba, o local é um espaço cedido pelo governo, mas sem vínculo com este, o estabelecimento se localiza no bairro Água Verde e funciona 24 horas por dia todos os dias. Os atendimentos realizados pelo CVV consistem em ligações telefônicas, um serviço que é gratuito e de total sigilo e não sendo mantidos quaisquer registros das ligações recebidas e pode ser solicitado também por chat, Skype e e-mail.
As exigências para aqueles que desejam se voluntariar para realizar atendimentos no espaço físico da instituição consistem em: pessoas maiores de 18 anos que possuam pelo menos quatro horas semanais disponíveis, não é necessário que a pessoa esteja vinculada com a área da saúde, qualquer um pode ser um candidato. Ao se inscrever para ser voluntário, a pessoa irá participar de um curso de nove horas, dividido em três dias de palestras expositivas a respeito da instituição e da visão de pessoa sob a qual o CVV trabalha. Após essas nove horas, os que desejam permanecer como voluntários passam para uma segunda etapa do curso que consiste em 21 horas dividas em sete encontros semanais, onde os novos voluntários recebem instruções diretivas que consistem em vivências e teoria a respeito dos atendimentos, após concluir a segunda etapa do curso, o voluntário realiza um estágio de 12 horas divididas em três semanas, acompanhado de outro voluntário mais experiente.
O CVV não possui ligações ou relações diretas com outras instituições, mas possui auxílio dos próprios voluntários e pessoas da sociedade em geral que não fazem parte da equipe de voluntários, mas que reconhecem a importância do trabalho realizado pela instituição e realizam doações e contribuições financeiras.
O CVV possui uma função social humanitária, onde a prioridade é promover a inter relação pessoa-pessoa proporcionando um ambiente de acolhimento deixando de lado discriminações tanto religiosas quanto étnicas, morais e políticas. Quando necessário, o CVV pode oferecer indicações de serviços profissionais gratuitos de outras áreas como médicos, advogados entre outros, tendo em vista que o trabalho de atendimento é realizado por voluntários e não especialistas. No entanto, o CVV dispõe de consultores de áreas específicas, como de psicólogos, inclusive a abordagem utilizada pelo CVV é inspirada na Abordagem Centrada na Pessoa de Carl Rogers, a qual o voluntário do CVV deve possuir conhecimento.
Na Abordagem Centrada na Pessoa o foco é voltado para a própria pessoa e não para o problema, Carl Rogers acreditava que o bem estar mental não é um estado específico e a saúde mental não pode ser obtida de maneira repentina, para ele o indivíduo não necessitava de um conserto, mas acreditava que o ser humano estaria sempre apto a se superar, pois para Rogers deve-se partir do princípio que o ser humano é um ser essencialmente bom (consideração positiva incondicional). Desse modo, para que isso ocorra é necessário um acolhimento que só pode ser alcançado através de um abandono total de valores morais pré-estabelecidos e preconceitos visando uma expansão na percepção que se tem do outro (compreensão empática). Rogers também dava importância à necessidade que havia dentre os indivíduos de uma autoconfiança necessária para pudessem assumir responsabilidade diante de suas escolhas, demonstrando assim a importância de se ter um autoconhecimento prévio, pois para Rogers o indivíduo possui os elementos necessários dentro de si para alcançar uma “vida plena” (congruência).
O CVV é um trabalho que visa a compreensão do ser humano, que possui uma filosofia baseada em um construto teórico, a teoria rogeriana, que norteia o trabalho realizado pela instituição. O treinamento dos voluntários é construído em torno dessa base teórica para preparar aqueles que desejam atender, visando demonstrar a seriedade e a importância do trabalho realizado pela instituição, o treinamento consiste em um longo processo preparatório que sustenta esta perspectiva de serenidade, não colocando pessoas despreparadas para a realização de um trabalho sério como a promoção da saúde mental e a prevenção ao suicídio.

ENTRE EM CONTATO COM O CVV
Endereço: Rua Carneiro Lobo, 35 - Água Verde, Curitiba-PR, 80240-240
Telefone: (41) 3342-4111 ou 141



Ação do CVV com mil balões amarelos na 
Praça Santos Andrade em frente ao prédio histórico da UFPR
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COMO REFERENCIAR ESSA POSTAGEM:

FERREIRA, A. C. C. & PEREIRA, J. K. CVV: Centro de valorização da vida. Curitiba, 01 set. 2016. Disponível em: <http://psiqueempalavras.blogspot.com.br/2016/09/setembro-amarelo-e-o-trabalho-do-cvv.html>. Acesso em: (dia). (mês). (ano).

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