Em função do Setembro Amarelo, o mês de Prevenção ao Suicídio, trazemos hoje uma postagem informativa. Para quem não sabe, o Setembro Amarelo é uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), se trata de uma campanha que ocorre no Brasil desde 2014 buscando promover ações preventivas em relação ao suicídio, em uma tentativa de retirar o estigma em torno desta temática e trazer informação à sociedade. Hoje trazemos um pouco sobre como funciona o trabalho do CVV, onde nós duas realizamos um trabalho voluntário por algum tempo. O voluntariado no CVV nos proporcionou ricas experiências, nos sensibilizando a respeito da escuta do sujeito, expandindo a nossa visão acerca do sofrimento do outro e de sua necessidade de se expressar.
CVV – CENTRO DE VALORIZAÇÃO DA VIDA
Historicamente, a Prevenção ao Suicídio é algo que se dá a partir do
momento que alguém se dispõe a ouvir o outro com compaixão, esta prática ganhou
destaque nos Estados Unidos e Europa, após a Segunda Guerra Mundial, quando
pequenos grupos de pessoas começaram a se reunir para ouvir as pessoas e suas
angústias. Dentre estes grupos, encontravam-se os europeus que se
autointitulavam “Os Samaritanos” (Samaritans), fundado pelo Reverendo Chad
Varah ganham destaque.
A iniciativa do Rev. Chad Varah ocorre quando uma jovem comete suicídio
após sua primeira menstruação, pois julgava ter contraído uma doença venérea e
é enterrada fora da cidade devido aos tabus da sociedade da época que não
permitiam que suicidas fossem enterrados nos cemitérios comuns. Essa situação
tem como efeito uma sensibilização no ainda jovem Reverendo que passa a se
questionar a respeito dos motivos que levaram essa jovem a tirar a sua própria
vida, concluindo que o que a levara a tal ato extremo havia sido a falta de
informação e o preconceito que cercava a sociedade. Ele resolve tomar uma
atitude diante disso e publica num jornal o número de telefone da igreja,
propondo-se a ouvir com seriedade pessoas que estivessem com a necessidade de
tratar de assuntos sérios e obteve retorno, com inúmeras ligações e até mesmo
pessoas que estavam vindo de outras cidades apenas pela sua necessidade de
serem ouvidas.
O Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma organização não governamental
(ONG), filantrópica, sem fins religiosos ou lucrativos que visa oferecer um
atendimento através de serviços voluntários e tem por finalidade o Programa de
Apoio Emocional, definido pela instituição por “Escuta Amorosa” (Befriending),
para aqueles que precisam conversar ou que se encontram em situação de risco de
suicídio, agindo como um método preventivo com uma abordagem centrada na
pessoa. No Brasil, o CVV já existe há cerca de cinco décadas, seu trabalho teve
início em São Paulo em torno da década de 60 e possuía apenas um posto de
atendimento que seguia os moldes da proposta realizada pelos Samaritanos.
Posteriormente, se expandindo por todo o país. O CVV possui cerca de 70 postos
de atendimento, contando também com o serviço de apoio via internet que oferece
um alcance ainda maior de pessoas.
Existem instalações do CVV em 18 estados mais o Distrito Federal, com o
apoio de aproximadamente dois mil voluntários e são realizados por ano cerca de
um milhão de atendimentos. Com relação à instalação de Curitiba, o local é um
espaço cedido pelo governo, mas sem vínculo com este, o estabelecimento se
localiza no bairro Água Verde e funciona 24 horas por dia todos os dias. Os
atendimentos realizados pelo CVV consistem em ligações telefônicas, um serviço
que é gratuito e de total sigilo e não sendo mantidos quaisquer registros das
ligações recebidas e pode ser solicitado também por chat, Skype e e-mail.
As exigências para aqueles que desejam se voluntariar para realizar
atendimentos no espaço físico da instituição consistem em: pessoas maiores de
18 anos que possuam pelo menos quatro horas semanais disponíveis, não é
necessário que a pessoa esteja vinculada com a área da saúde, qualquer um pode
ser um candidato. Ao se inscrever para ser voluntário, a pessoa irá participar
de um curso de nove horas, dividido em três dias de palestras expositivas a
respeito da instituição e da visão de pessoa sob a qual o CVV trabalha. Após
essas nove horas, os que desejam permanecer como voluntários passam para uma
segunda etapa do curso que consiste em 21 horas dividas em sete encontros
semanais, onde os novos voluntários recebem instruções diretivas que consistem
em vivências e teoria a respeito dos atendimentos, após concluir a segunda
etapa do curso, o voluntário realiza um estágio de 12 horas divididas em três
semanas, acompanhado de outro voluntário mais experiente.
O CVV não possui ligações ou relações diretas com outras instituições,
mas possui auxílio dos próprios voluntários e pessoas da sociedade em geral que
não fazem parte da equipe de voluntários, mas que reconhecem a importância do
trabalho realizado pela instituição e realizam doações e contribuições
financeiras.
O CVV possui uma função social humanitária, onde a prioridade é promover
a inter relação pessoa-pessoa proporcionando um ambiente de acolhimento
deixando de lado discriminações tanto religiosas quanto étnicas, morais e
políticas. Quando necessário, o CVV pode oferecer indicações de serviços
profissionais gratuitos de outras áreas como médicos, advogados entre outros,
tendo em vista que o trabalho de atendimento é realizado por voluntários e não
especialistas. No entanto, o CVV dispõe de consultores de áreas específicas,
como de psicólogos, inclusive a abordagem utilizada pelo CVV é inspirada na
Abordagem Centrada na Pessoa de Carl Rogers, a qual o voluntário do CVV deve
possuir conhecimento.
Na Abordagem Centrada na Pessoa o foco é voltado para a própria pessoa e
não para o problema, Carl Rogers acreditava que o bem estar mental não é um
estado específico e a saúde mental não pode ser obtida de maneira repentina,
para ele o indivíduo não necessitava de um conserto, mas acreditava que o ser
humano estaria sempre apto a se superar, pois para Rogers deve-se partir do
princípio que o ser humano é um ser essencialmente bom (consideração positiva
incondicional). Desse modo, para que isso ocorra é necessário um acolhimento
que só pode ser alcançado através de um abandono total de valores morais pré-estabelecidos
e preconceitos visando uma expansão na percepção que se tem do outro
(compreensão empática). Rogers também dava importância à necessidade que havia
dentre os indivíduos de uma autoconfiança necessária para pudessem assumir
responsabilidade diante de suas escolhas, demonstrando assim a importância de
se ter um autoconhecimento prévio, pois para Rogers o indivíduo possui os
elementos necessários dentro de si para alcançar uma “vida plena”
(congruência).
O CVV é um trabalho que
visa a compreensão do ser humano, que possui uma filosofia baseada em um
construto teórico, a teoria rogeriana, que norteia o trabalho realizado pela
instituição. O treinamento dos voluntários é construído em torno dessa base
teórica para preparar aqueles que desejam atender, visando demonstrar a
seriedade e a importância do trabalho realizado pela instituição, o treinamento
consiste em um longo processo preparatório que sustenta esta perspectiva de
serenidade, não colocando pessoas despreparadas para a realização de um
trabalho sério como a promoção da saúde mental e a prevenção ao suicídio.
ENTRE EM CONTATO COM O CVV
Endereço: Rua Carneiro Lobo, 35 - Água
Verde, Curitiba-PR, 80240-240
Telefone: (41) 3342-4111 ou 141
Ação do CVV com mil balões amarelos na Praça Santos Andrade em frente ao prédio histórico da UFPR |
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COMO REFERENCIAR ESSA POSTAGEM:
FERREIRA, A. C. C. & PEREIRA, J. K. CVV: Centro de valorização da vida. Curitiba, 01 set. 2016. Disponível em: <http://psiqueempalavras.blogspot.com.br/2016/09/setembro-amarelo-e-o-trabalho-do-cvv.html>. Acesso em: (dia). (mês). (ano).
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