quarta-feira, 21 de setembro de 2016

A concepção do brincar nas teorias de Anna Freud e Melanie Klein

Estamos em semana de provas, mas arranjamos um tempinho pra postar alguma coisinha aqui no blog! Essa foi uma atividade realizada no nosso 4º semestre para a disciplina do Desenvolvimento Infantil e o Brincar, nela tentamos traçar um paralelo entre a teoria sobre o brincar de dois importantes nomes para a psicanálise infantil, são elas Anna Freud e Melanie Klein, com isso podemos notar as similaridades e os distanciamentos em suas técnicas. Não está referenciado nos parágrafos, mas toda a base para a construção do texto foi da autora Aberastury. 


A CONCEPÇÃO DO BRINCAR NAS TEORIAS DE ANNA FREUD E MELANIE KLEIN

      Anna Freud não considerava o brincar o principal ponto em sua teoria, em seu método, o analista operava como um “educador”, colocando-se na posição de “Ego ideal”, onde no momento em que a criança entra no trabalho de análise, seria possível a interpretação dos sonhos, dos devaneios e dos desenhos. O importante para Anna Freud é o fato de a criança desenvolver a transferência, já que, para ela, a criança ainda possui um ego não suficientemente desenvolvido para realizar a transferência de análise. No caso das crianças, seus conflitos envolvem pessoas reais e que existem no mundo exterior e que ainda não se encontram estabelecidas na memória, diferente dos adultos, onde seus conflitos dizem respeito a objetos amorosos mais arcaicos. Para Anna Freud, o analista de crianças além da habilitação para realizar o tratamento psicanalítico propriamente dito, deveria também possuir um conhecimento pedagógico. 
      Anna Freud acreditava dentro da dinâmica da análise infantil que, com crianças não era possível se realizar uma transferência de modo convencional, com isso era necessário um tratamento prévio a análise, que tinha como função de conscientizar a criança sobre sua enfermidade, assim a criança acabava confiando no analista e se estabelecia uma transferência positiva, já a transferência negativa não deveria ser interpretada, mas sim ser anulada por meios não analíticos. Anna Freud enfatizava que somente através da transferência positiva se poderia realizar um trabalho benéfico com crianças, pois ela visava mais que um trabalho analítico, mas um trabalho pedagógico também com as crianças, desta maneira o resultado dependia do laço afetivo com o educador, o analista tinha um papel de educador, pois o superego da criança ainda não estava maduro, precisando de um auxilio externo. 
      Anna Freud também afirmava que com crianças não ocorriam neuroses de transferência, mesmo ocorrendo dentro de seu trabalho com as crianças algumas “repetições” do que era vivido na relação pais e filhos, pois mesmo se transferissem sintomas e defesas a neurose permaneceria no seu objeto original.  Para ela o jogo não se compara ao uso do método de associação livre (usada com adultos), isto se dava como uma dificuldade. Porém, Anna Freud fala como o id se manifestava de modo mais claro em crianças através dos “sonhos diurnos” e a “fantasia manifesta no jogo, desenhos”, desta forma o jogo era utilizado como uma técnica complementar, ficando visível o impulso do id, mas ainda deixando encoberto o ego.
      Melanie Klein acreditava dentro da dinâmica da análise infantil que, as transferências positivas e negativas; e a espontaneidade da criança deveria ser interpretada, pois a transferência se dá como principal instrumento para distinguir o que passa pela mente de uma criança, podendo com isso, descobrir suas histórias. Também fala que através das transferências e da ligação entre as experiências iniciais da vida da criança as suas situações presentes, podem ser um caminho a cura. Melanie Klein diverge do método usado por Ana Freud, pois acredita que o analista não deveria tomar o papel de educador para si. 
      Melanie Klein fala que está presente na mente das crianças imagens que possuem características boas e más, estas imagens estão relacionadas a estados do superego, quando aparecem nos jogos, de modo simbólico ou personificado, se pode perceber como está ocorrendo à formação do superego e com isso, diminuindo sua gravidade. Klein mostra que as ansiedades da criança tanto depressiva como paranoide são vividas dentro da análise e quando expressadas nos jogos podem ser reduzidas através da interpretação. Por conseguinte, é na fantasia que a criança tem com o analista que ela retrocederá as suas primeiras experiências, deste modo podendo ser analisado o que acontecia em sua mente, mas somente no término da análise ela reviverá sentimentos do período do desmame e elaborará o “luto transferêncial” por meio das ansiedades.
   Enquanto Melanie Klein acreditava que os jogos realizados pelas crianças poderiam ser equiparados à associação livre realizada pelos adultos em análise, Anna Freud discordava veemente dessa visão de Klein, pois, para ela, o ego infantil ainda não estava desenvolvido suficientemente para que elas pudessem realizar estas associações livres, mas para Klein, o brincar se aproximava dessa prática, posto que as crianças ainda estariam numa fase onde a verbalização ainda não estaria muito bem estruturada e os jogos seriam uma forma de acessar essa associação livre realizada pelas crianças, onde elas representam de maneira simbólica as suas fantasias, experiências pessoas e desejos. Anna Freud entendia o brincar como atividade expressiva e não simbólica, pois para ela, o simbólico estava ligado ao recalque, já Melanie Klein via o brincar como uma espécie de discurso e destinado ao analista, onde poderia haver diferentes níveis de simbolização conforme idade, nível de funcionamento mental, quantidade e qualidade das angústias da criança. É durante a brincadeira que a criança projeta tanto no analista quanto nos brinquedos tanto as tendências amorosas quanto as destrutivas. 

REFERÊNCIA

ABERASTURY, Arminda. Duas correntes em psicanálise de crianças. In: ______. Psicanálise da Criança: Teoria e Técnica. 8. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982. pp. 60-69

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COMO REFERENCIAR ESTA POSTAGEM

FERREIRA, A. C. C. & PEREIRA, J. K. A concepção do brincar nas teorias de Anna Freud e Melanie Klein. Curitiba, 21 set. 2016. Disponível em: <http://psiqueempalavras.blogspot.com.br/2016/09/a-concepcao-do-brincar-nas-teorias-de.html>. Acesso em: (dia). (mês). (ano).

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