sábado, 10 de setembro de 2016

Winnicott e o brincar

Essa foi uma atividade realizada no 4º semestre de nossa graduação para a disciplina de Desenvolvimento Infantil e o Brincar, com ela trazemos algumas considerações sobre a importância que Winnicott apresenta a respeito do brincar no desenvolvimento infantil e como a função materna é fundamental no auxílio deste processo.



CONSIDERAÇÕES DE WINNICOTT SOBRE O BRINCAR E COMO ESTE SE DESENVOLVE

    De acordo com Winnicott (1975), o brincar é uma atividade de fundamental importância para o desenvolvimento da criança, seja qual for a sua natureza, pois é na brincadeira que podem ser encontradas as maiores formas de expressão de uma criança, ela pode expressar tanto sentimentos de prazer quanto sentimentos relacionados a medos e frustrações através dos jogos e brincadeiras, e por isso considera-se a brincadeira como uma ferramenta de grande riqueza para a prática psicanalítica no trabalho com crianças. 
    Segundo Winnicott (1975), o brincar é praticar algo que está estritamente relacionado com o envolvimento da mãe e seu bebê e da confiança que tal relação desperta, o qual está conectado às experiências de vida da criança de como ocorre seu mundo interno e seu mundo externo, o brincar no tempo e no espaço estabelece que exista um espaço potencial entre a mãe e o bebê, espaço este que pode variar conforme experiências subjetivas, é neste espaço que o mundo interno entra em contraste com o mundo externo da criança. Winnicott fala sobre como o bebê está ligado ao seu objeto, pois ele lhe dá características maternas, desta forma o objeto pode ser por ora amado ou odiado conforme ocorre o relacionamento da mãe e do bebê, isto resultará num potencial para o desenvolvimento da criança. As brincadeiras, para Winnicott, são parte essencial no desenvolvimento da maturidade emocional de uma criança, é através do brincar que a criança é capaz de desenvolver habilidades individuais e para se relacionar em grupo. 
    Para Winnicott (1975) o brincar também se relaciona com o fato de poder ficar só, mesmo que estando na presença de outras pessoas, aqui a criança entende que ela pode voltar a se relacionar com as outras pessoas no momento em que desejar sentindo segurança para poder de certa forma se distanciar e brincar, a criança então pode aceitar outro membro em suas brincadeiras, como a mãe, a qual poderá dar idéias para novas brincadeiras, que podem ou não serem aceitas, abrindo espaço para um brincar em conjunto.
    Para Winnicott (1975), o brincar divide-se em: ter a mãe como objeto, onde o bebê ainda entende como se a mãe e ele fossem apenas um único ser, a mãe concretiza aquilo que o bebê já visa encontrar, é um estágio de total dependência do bebê para com a mãe; em um segundo estágio, ainda a dependência é grande apesar da criança já ser capaz de brincar sozinha, a presença do outro ainda é essencial para ela ainda que já seja capaz de tolerar a falta, a criança passa a desenvolver uma espécie de confiança, essa confiança na mãe cria um “playground”, um espaço intermediário, onde “a idéia da magia se origina, visto que o bebê, até certo ponto, experimenta onipotência”, neste estágio o objeto é repudiado e aceito novamente; por conseguinte, a criança atravessa para o estágio seguinte onde a sua dependência do outro é apenas parcial, ela já consegue brincar sozinha, mas ainda é preciso que aquela que ama e confia ainda esteja ali para assegurá-la de que ela não está realmente sozinha; passa-se então ao estágio em que a criança consegue permitir terceiros em suas brincadeiras, contanto que isso seja feito de forma cautelosa, pouco a pouco, nessa fase os jogos coletivos estão inseridos, como brincar de casinha com outras crianças, por exemplo.
    Winnicott (1975) aponta que “o brincar é por si uma terapia”, que implica numa configuração de atitudes sociais, durante a brincadeira algum responsável pode ficar disponível para interagir, mas não se deve tomar o espaço da criança, deixando que ela possa desempenhar atividades criativas. Na psicoterapia, a proposta é justamente a de tentar trazer a criança de volta a esse estado onde ela seja capaz de realizar brincadeiras, quando ela não é capaz de fazê-lo com o terapeuta, se trata de uma dualidade entre terapeuta e paciente, onde se estabelece uma brincadeira entre dois. O terapeuta busca traduzir a partir da brincadeira o que a criança, ainda em sua posição limitada e faltosa em relação à linguagem, estaria tentando expressar. Winnicott tenta afastar um pouco as interpretações de cunho sexual nas brincadeiras das crianças, propondo que talvez estas atividades não sejam sempre de natureza sexual, o elemento instintual não é excessivo no brincar.
O conteúdo não importa. O que importa é o estado de quase alheiamente, aparentado à concentração das crianças mais velhas e dos adultos. A criança que brinca habita uma área que não pode ser facilmente abandonada, nem tampouco admite facilmente intrusões. (WINNICOTT, 1971/1975)
    De acordo com Winnicott (1975) o brincar traz experiências do sujeito e dos objetos percebidos por ele, posto que desempenhe a função de comunicar conteúdos reais do indivíduo. Este brincar diz respeito tanto à realidade interna quanto à realidade externa de um sujeito. Esta atividade é também uma atividade corpórea, afinal está ligada à manipulação de objetos e o contato com o corpo, a criança traz conteúdos tanto de ordem externa como interna ao brincar, podendo demonstrar aspectos de suas experiências oníricas e trazer características do mundo externo durante o ato de brincar. A brincadeira pode se desenvolver de algo pessoal, para um brincar compartilhado, o que posteriormente levará a conhecimentos culturais. Winnicott mostra que este ato de brincar é universal, o qual pode trazer grande satisfação, mas também em contra partida certo grau de ansiedade, podendo acabar com a experiência.

"O brincar é por si uma terapia" (WINNICOTT, 1975)

REFERÊNCIA

WINNICOTT, D. W. O brincar: uma exposição teórica. In: ______. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago,1975.
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COMO REFERENCIAR ESTA POSTAGEM

FERREIRA, A. C. C. & PEREIRA, J. K. Winnicott e o brincar. Curitiba, 10 set. 2016. Disponível em: <http://psiqueempalavras.blogspot.com.br/2016/09/winnicott-e-o-brincar.html>. Acesso em: (dia). (mês). (ano).

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