terça-feira, 22 de maio de 2018

O desenvolvimento segundo René Spitz



O DESENVOLVIMENTO SEGUNDO RENÉ SPITZ

Alessandra Ferreira

Todas as informações contidas neste texto tem como referência a obra de René Spitz (2013): O Primeiro Ano de Vida. Aqui falo um pouco sobre algumas das mudanças  que acontecem no primeiro ano de vida da criança que, incapaz de sobreviver sozinha, é totalmente dependente de sua figura materna, que supre suas necessidades primordiais, resultando na relação complementar chamada díade.


As mudanças que ocorrem no primeiro ano de vida da criança em relação ao seu desenvolvimento são realmente rápidas, é um momento onde os instrumentos de adaptação para a sobrevivência começam a se desenvolver. Nessa idade, a criança é incapaz de sobreviver sozinha e é totalmente dependente de uma figura, em geral materna, que venha suprir essas necessidades, resultando numa relação complementar chamada de díade. A relação mãe-filho é uma relação assimétrica, pois a estrutura psíquica da mãe é fundamentalmente diferente da estrutura psíquica de seu filho.
Todas as experiências vividas pela mãe desde a gestação até a hora do parto podem influenciar a criança de forma positiva ou negativa. É importante estimular a criança desde o início, pois isso irá permitir que o desenvolvimento da criança ainda mais facilitado, posto que nesta fase, a criança tem total dependência da mãe e/ou de seus cuidadores, são estas pessoas que formam as primeiras relações objetais da criança depois que ela passar pelo estágio de simbiose com a mãe, essas pessoas irão constituir e auxiliar no desenvolvimento de suas relações inter-sociais.
Ao nascer criança ainda não possui um ego, afirmando que dentro da teoria de Freud, o recém nascido é um organismo psicologicamente indiferenciado, que nasce com um equipamento congênito e algumas tendências. Porém, aos dois meses de idade começam a surgir as primeiras manifestações psicológicas intencionadas e surge então a resposta de sorriso direcionada ao rosto humano. Como a fala é inexistente, a criança só responde a sinais, sendo o rosto humano a primeira gestalt-sinal que ela consegue distinguir, porém esse reconhecimento de face é limitado, o reconhecimento objetal é ainda parcial pertencente a fase pré-objetal.
Os brinquedos elegidos pela criança às vezes tem uma relação a esse reconhecimento de faces, podendo perceber que há uma preferência por objetos como bonecos ou ursos, que possuem olhos, boca e nariz, remetendo a um rosto. Esse comportamento-resposta em reconhecer rostos, não se restringe apenas à mãe, qualquer pessoa ou objeto pode provocar na criança ainda nesta fase uma reação de sorriso. Isso porque, no decorrer das primeiras seis semanas de vida, é estabelecido na memória infantil um traço mnemônico do rosto humano. Isso se dá pelo fato de que, sempre, ao fazer algo com o bebê, como a importante hora da amamentação ou da alimentação, a pessoa que realiza esta atividade está voltada com o rosto para a criança. 
O reflexo de sorrir gera consequências para o bebê, como a transição da recepção para a percepção, do princípio do prazer para o princípio da realidade, e, também começa a estabelecer os primeiros traços de memória, sendo considerado o primeiro organizador da psique.
Ao amamentar, a mãe olha para o seu bebê e ele direciona o seu olhar para ela e o mantém fixo nela. Mesmo quando a mãe não pode amamentar no peito, por adversidades externas como o leite ter secado ou impossibilidades diversas, ao ser amamentando com uma mamadeira, o bebê age da mesma forma, seja com a mãe, o pai, ou qualquer outra pessoa que exerça a função de alimentar a criança. Isso ajuda a criar um vínculo, pois ao olhar para a criança, se faz com que seja criado um laço que é imensamente importante para o desenvolvimento e que terá consequências no futuro.
O bebê nesta fase já possui alguma percepção do mundo ao seu redor, mesmo que essa percepção ainda esteja ligada ao estímulo externo e apenas quando coincide com a sua percepção de fome. Mas o desenvolvimento segue adiante, quando o bebê já começa a seguir os movimentos humanos com o seu olhar. 
A cada estágio que o bebê avança, as modificações vão sendo cada vez mais elaboradas, tanto em relação ao seu desenvolvimento fisiológico e biológico quanto em relação ao seu desenvolvimento psíquico.
A cavidade oral (boca) é uma zona perceptiva que opera de maneira bastante específica desde que o bebê nasce, pois é nessa área que os órgãos sensoriais de estímulos externos se encontram com receptores sensoriais para os estímulos internos. Quando colocada a chupeta ou o bico da mamadeira próximo ao bebê, ele tende a reagir de tal forma, virando a cabeça na direção de onde se encontra o objeto e em seguida “estala” a boca. Essa reação quando realizada no peito provoca o reflexo de abocanhar o mamilo, estando relacionado aos movimentos de sucção (reflexos de sucção) realizados pelo bebê. 
Sobre os reflexos, considera-se que nenhum reflexo é completamente certo quando a criança nasce. Um comportamento que por vezes fica bastante evidente no bebê na observação de bebês é o movimento de abrir e fechar as mãos (as duas ou apenas uma delas), que se denomina como “reflexo de preensão”, ou seja, este ato de fechar a mão ao receber estimulação palmar.
Em relação ao choro, este seria uma expressão afetiva onde a criança reage de forma primitiva através de um reflexo em relação às sensações externas ou internas. O choro sinaliza as necessidades da criança, também pode ser indicativo da frustração experienciada pelo bebê, assim como o sorriso é um indicativo de satisfação. Se os estímulos internos como a fome ou o desconforto ultrapassam um determinado limiar, a criança na busca pelo estado de sossego descarrega esse desprazer pelo choro.
Antes de fazer um ano, a criança produz sons que pode ser chamado de balbucios, ainda não são vocalizações de fala propriamente dita, mas são combinações de sons que a criança estimula em si mesma e que auxiliam para que ela aprenda a falar. É necessário que se estimule e incentive isso na criança. Antes do terceiro mês de vida, o bebê já se torna consciente de seus próprios sons e percebe que estes sons são diferentes dos sons produzidos pelo ambiente ao seu redor.
Para que a criança desenvolva o seu psiquismo, é importante que seu ambiente a estimule para isso, mas embora o meio em que vive contribua significativamente para o desenvolvimento, a criança não conseguirá usufruir destas experiências até que alguns desenvolvimentos biológicos a tenha preparado para essas mudanças e isto está diretamente ligado à função exercida pela figura materna na vida da criança, sendo ela a pessoa que auxilia na construção da psique de seu filho, com o laço afetivo que é criado. Mas para que a criança desenvolva sua individualidade subjetiva, é preciso que este laço seja cortado em algum ponto, rompendo o elo narcísico. 

REFERÊNCIA

SPITZ, R. O primeiro ano de vida. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2013.

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COMO CITAR ESTA POSTAGEM

FERREIRA, A. C. C.; PEREIRA, J. K. (Org.). O desenvolvimento segundo René Spitz. Curitiba, 22 Mai 2018. Disponível em: <https://psiqueempalavras.blogspot.com/2018/05/o-desenvolvimento-segundo-rene-spitz.html>

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