domingo, 6 de janeiro de 2019

O processo de aconselhamento psicológico

Essa postagem traz uma síntese do capítulo “O aconselhamento como processo” presente no livro “O processo de aconselhamento” de Sheldon Eisenberg e Lewis E. Patterson, que buscam definir o que é o aconselhamento e quais são seus objetivos, partindo disso para apresentar as etapas de tal processo e oferecendo uma pequena introdução às técnicas que serão exploradas nos capítulos seguintes do livro. Essa produção foi realizada na disciplina de Aconselhamento Psicológico, no 7º período do curso de Psicologia.



O ACONSELHAMENTO COMO PROCESSO


O aconselhamento psicológico pode ser um conselho, uma opinião ou uma instrução dada para que a pessoa saiba o que deve fazer e se deve buscar alguma mudança. Para isso, de acordo com a teoria de Rogers, é necessário conhecer cada indivíduo, auxiliando-os a classificar seus objetivos, construindo planos de ação conforme seus objetivos, assim respeitando a singularidade de cada ser humano, tal como Rogers havia observado, posto que cada pessoa responde de maneira diferente mesmo diante de situações semelhantes. Assim sendo, a relação de ajuda volta-se para a elevação das potencialidades de cada sujeito e o conselheiro, nesse ponto, serve como um facilitador desse processo.
No aconselhamento aborda-se também intenções “resultantes” e “processuais”. O processo de interação que acontece entre cliente e conselheiro ocorre de maneira única e pode resultar em mudanças de: comportamento; construtos pessoais; capacidade para ser bem-sucedido; conhecimento e habilidade de tomar decisões. O aconselhamento deverá gerar para o cliente ações mais livres e responsáveis, assim como o desenvolvimento da capacidade para entender e controlar a sua própria ansiedade.
Tal processo de aconselhamento gera mudanças no cliente, podendo ser relacionado ao desenvolvimento pessoal (crescimento pessoal), ou terapêutico (solução de problemas). Essa mudança pode ser percebida por todos ou por ninguém do convívio do cliente, mas para ele a mudança é algo evidente. A consciência desse objetivo de mudança faz com que o cliente perceba que o aconselhamento não é apenas uma conversa jogada fora.
Os tipos de mudança que podem vir a ocorrer: mudança de comportamento, como a solução de um problema, ou um aumento de potencial; mudança em construtos pessoais, melhora do autoconceito, passando a se perceber como uma pessoa mais competente, amável ou merecedora, essas mudanças muitas vezes geram diferenças no comportamento também, ou de satisfação quando a pessoa aceita melhor seu próprio comportamento. O pensamento de um indivíduo também pode gerar insatisfação, o que também pode ser trabalhado no processo de aconselhamento.
O aconselhamento ainda pode gerar um aumento da capacidade individual do indivíduo para lidar com situações da vida. Tornando a vida mais satisfatória e prazerosa, fazendo com que a pessoa identifique seus problemas. As alternativas disponíveis e os resultados prováveis de suas atitudes, muitas vezes aprendendo a lidar com situações que não consegue mudar. O aconselhamento também auxilia na capacidade do indivíduo tomar decisões.
As mudanças obtidas durante o processo de aconselhamento podem modificar sentimentos, valores, atitudes, pensamentos e ações. Trazendo um sentimento de paz, que nem sempre é percebida pelos demais, o ainda gerando grande diferenças no comportamento dos clientes.

OBJETIVOS RESULTANTES E OBJETIVOS PROCESSUAIS DO ACONSELHAMENTO

Para que se possa compreender o aconselhamento como um processo, é preciso distinguir quais são seus objetivos resultantes e seus objetivos processuais. 

Objetivos resultantes do aconselhamento

Como o próprio título indica, estes são os resultados que o cliente pretende obter do aconselhamento, ou seja, aquilo que o indivíduo deseja alcançar como consequência do trabalho realizado junto do conselheiro. O processo de aconselhamento deve levar o sujeito à mudanças, que podem ser muitas, e faz com que se perceba que o aconselhamento é algo que vai além de “uma conversa agradável” (p. 20), pois também pode ser um trabalho árduo.
O comportamento de um indivíduo está baseado naquilo que ele compreende como a sua realidade, a partir de seus construtos pessoais. Assim, a mudança comportamental pode ser reconhecida com maior facilidade por seu caráter passível de observação. Todavia, apesar de muitos behavioristas acreditarem que as mudanças podem ser somente observadas a partir do comportamento, há aqueles que creem que elas podem ocorrer nos construtos particulares e podem ser percebidas a partir da expressão verbal (discurso) do cliente. Os pensamentos podem levar a insatisfação porque levam o sujeito a criar expectativas que nem sempre serão atendidas.
Um dos objetivos do aconselhamento é fazer com que a pessoa se perceba de uma forma mais positiva e que perceba a impossibilidade de satisfação, mas não como algo negativo, podendo buscar outras saídas que venham a ser satisfatórias. Na vida existem milhares de situações adversas, mas também se acredita que todo indivíduo é capaz de desenvolver ou aumentar suas capacidades para avaliar os problemas que precisam ser resolvidos e lidar com as adversidades, ainda que a única solução disponível seja aceitar uma condição que não se pode mudar e conviver com ela, o que também é um modo de dominar um problema. 
Todo sujeito é livre para “determinar suas próprias ações, fazer as próprias escolhas e tomar as próprias decisões” (p. 23), mas há uma fragilidade nesse conceito de liberdade, pois para viver em sociedade, é preciso abrir mão de uma parte dela, pois ela se limita ao espaço onde se inicia a liberdade do outro, impedindo que façamos tudo que temos vontade. O aconselhamento também serve para fazer um indivíduo refletir sobre os limites de sua liberdade e as consequências de suas ações e decisões sobre o contexto em que se está inserido. Deve existir um equilíbrio entre aquilo que é cedido em troca da liberdade e aquilo que é mantido.
O aconselhamento também não acaba com a ansiedade de uma pessoa, essa é uma concepção equivocada. Todos possuem suas ansiedades e angústias, mas isso não significa que não seja possível levar uma vida satisfatória. O papel do conselheiro é tentar ajudar a pessoa a lidar com suas ansiedades de modo que isso não seja mais uma característica debilitante, que impede o indivíduo de fazer coisas ou que o leva a evitar determinados tipos de situações somente para que possa evitar a ansiedade. É preciso levar o cliente a apresentar um nível adequado de ansiedade frente à situações onde, por exemplo, deve temer, por serem perigosas, ou quando deve se preocupar a respeito de um aspecto moral de algo. Mas é preciso buscar eliminar a maior parte da ansiedade desnecessária, fruto de concepções que foram construídas ao longo das experiências (geralmente negativas).

Objetivos processuais no aconselhamento 

Os objetivos processuais estão relacionados aos acontecimentos do futuro,  coisas que o conselheiro considera que sejam úteis alcançar a mudança que se deseja promover no cliente, que irá se manifestar fora do consultório, na vida cotidiana do sujeito. 
Podem ser ações do conselheiro, como também podem ser efeitos a serem experimentados pelo cliente. Se trata, principalmente, da compreensão do universo do cliente e em como suas ações refletem em seu mundo, como ele se comporta e como se sente, o que é significativo para ele, o que pode ser aproveitado, o que deve ser trabalhado e qual postura ou técnica o conselheiro deve adotar para que seu trabalho venha a surtir algum efeito positivo na vida do cliente.
REFERÊNCIA

PATTERSON, L. E.; EISENBERG, S. O aconselhamento como processo. In _______. O processo de aconselhamento. São Paulo: Martins Fontes; 2003. pp. 19-36

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COMO REFERENCIAR ESTA POSTAGEM

FERREIRA, A. C. C.; PEREIRA, J. K. O processo de aconselhamento psicológico. Curitiba, 06 jan 2019. Disponível em: <https://psiqueempalavras.blogspot.com/2019/01/o-processo-de-aconselhamento-psicologico.html>

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