quinta-feira, 21 de março de 2019

Psicologia e Educação – Parte II: A atuação do psicólogo junto à demanda de queixa

Dando continuidade a nossa série de postagens sobre Psicologia e Educação, hoje trazemos um pouco sobre a atuação do psicólogo junto à demanda de queixa escolar, salientando não apenas a importância do Psicólogo nesse contexto, e todo o cuidado da saúde mental dentro da esfera educacional, como também a luta do Psicólogo para se inserir nessa área e estabelecer seu papel frente à demanda local.



A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO JUNTO À DEMANDA DE QUEIXA ESCOLAR 

De acordo com Tanamachi e Meira (2003), a queixa escolar é um dos principais tópicos em que o saber do psicólogo é convocado na escola e, com isso, podemos pensar o papel do psicólogo como um mediador que pode elaborar condições e estratégias para lidar com as queixas escolares no intuito de superá-las. 
Sabemos que as crianças em seu processo de humanização necessitam desenvolver a linguagem, a consciência e as suas emoções, elementos nos quais a escola desempenha um papel de grande importância, mas não é só isso! Este fator humano é o que torna possível que sejam feitas intervenções que concernem o campo da psicologia e, neste caso, da psicologia na educação. 
Bleger (1984) e Gula e Pinheiro (2007) consideram que o psicólogo deve atentar-se a instituição como um todo, observando as relações humanas e comportamentos entre os sujeitos dentro deste ambiente e analisando pontos como os fins e os meios de uma instituição, os objetivos e métodos que utiliza. 
É nessa linha de raciocínio, juntamente com os autores que utilizamos, que abrimos caminho para falar sobre a queixa escolar, que pode ser compreendida como um apanhado de diversos fatores tais como as relações familiares e sociais que influenciam no comportamento de qualquer indivíduo. Com isso, a escola, os professores, os pais, os amigos, a criança e o próprio psicólogo precisam compreender que o surgimento de uma queixa se trata de uma representação oculta de um problema de outra ordem, questão a qual o psicólogo certamente encontra em sua formação um melhor amparo para avaliar a situação e pensar em uma intervenção pertinente em conjunto com todos os envolvidos.
É importante compreender, antes de tudo, que apontar dedos para os “culpados”, sejam estes a própria família ou a escola, pouco tem efeito na solução do problema apresentado e é algo que serve tão somente para que se perca o foco do que deve ser trabalhado. A intervenção inicia-se na análise e investigação da história dos fatos, que aponta a responsabilidade que cada um tem dentro da problemática que resultou em tal queixa. Só é possível operar qualquer tipo de intervenção quando se conhece todas as partes do problema e, é claro, que este não é um trabalho fácil.
O psicólogo não tem seu olhar voltado diretamente para as queixas sobre os defeitos e limitações de qualquer sujeito e na escola não é diferente, ele também estará mais interessado nas habilidades e preferências que uma criança ou adolescente venham a possuir, pois é nessa esfera em que será possível criar um vínculo para lidar com a questão central, que é a queixa em si. 
Há dois eixos a serem trabalhados, o primeiro diz respeito à relação de desenvolvimento e aprendizagem, e o segundo diz respeito à elaboração dos afetos e emoções que operam na formação da consciência de um sujeito. Para intervir sobre uma queixa escolar, como já mencionado, é extremamente necessário compreender de onde essa pessoa vem e o que representa o comportamento por ela apresentado, por isso o envolvimento da família nesse processo é imprescindível.
A investigação nesse contexto deve gerar um material suficiente com o qual o psicólogo possa trabalhar a demanda, utilizando-se de toda a rede de relações desse jovem que está disponível, pois só assim é possível pensar em uma estratégia que venha a ser transformadora do comportamento-problema. O psicólogo, por sua vez, define seu lugar nesse processo todo, organizando novos conhecimentos sobre a Psicologia na Educação.
As diferentes relações das quais um jovem participa mobiliza todos os elementos presentes, e é nessas relações que o psicólogo tem condições de atuar, mediando junto com a escola um sentido para o indivíduo, que é tanto pessoal e quanto social, dentro do processo de ensino-aprendizagem, onde todos são beneficiados.
No entanto, vale considerar o alerta que fazem Gula e Pinheiro (2007) de que o campo da psicologia, tanto na escola como em outros espaços, no Brasil ainda encontra a problemática típica de países ainda em desenvolvimento que posicionam-se com certa resistência diante das mudanças propostas pelos psicólogos às instituições, mesmo que as mudanças possam ser positivas, algo que ocorre em menor escala em países mais desenvolvidos. 
É disso que falam Barbosa e Marinho-Araújo (2010), a atuação do psicólogo na escola ainda é considerada de maneira secundária, existindo sob vários estigmas que precisam ser desmistificados, como a própria idéia de que o psicólogo é exclusivamente um profissional clínico, visto que isso é bem distante da realidade do psicólogo no contexto atual e como este texto mesmo buscou explicitar um pouco, ele pode se expandir, ofertando um trabalho que seja inclusivo e abrangente, envolvendo grupos.
E quanto a estes aspectos, ainda é necessário lutar muito para que seja possível haver uma real aceitação da inserção do psicólogo, tanto nesse quanto em outros contextos, sem que este seja visto de maneira hostilizada ou estigmatizada. 
Mesmo ao deixar de lado as visões lógicas, ontológicas e epistemológicas acerca do conhecimento, percebe-se uma repetição no discurso teórico, mesmo esse sendo encoberto por uma linguagem mais atual. Desse modo, ocorre uma preparação do ambiente, para que possa ser mais suscetível às mudanças necessárias e adequadas ao momento histórico-cultural. 
Devemos romper tais tendências, para que assim fosse possível ocorrerem novos avanços, como por exemplo, através de novas explicações teóricas e metodológicas a respeito do contexto social vigente, como também o estudo de técnicas alternativas relacionados a sobre levar as informações já existentes sobre a psicologia.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, R. M.; MARINHO-ARAÚJO, C. M. Psicologia escolar no Brasil: considerações e reflexões históricas. Estudos de Psicologia. Campinas, 2010.

BLEGER, J. Psico-higiene e Psicologia Institucional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984.

GULA, P.; PINHEIRO, N. Entre o limite e a esperança: relato de uma experiência em psicologia institucional. Psicologia, Ciência e Profissão, Brasília, v. 27, n. 2, p. 358-367, 2007.

MEIRA, M. E. M.; TANAMACHI, E. R. A atuação do pensamento crítico em psicologia e educação. In: MEIRA, M. E. M.; ANTUNES, M. A. M. (Org.). Psicologia escolar: práticas críticas. São Paulo, Casa do Psicólogo, 2003. p. 11-59.

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COMO CITAR ESTA POSTAGEM 

FERREIRA, A. C. C.; PEREIRA, J. K.  Psicologia e Educação – Parte II: A atuação do psicólogo junto à demanda de queixa. Curitiba, 21 mar 2019. Disponível em: <https://psiqueempalavras.blogspot.com/2019/03/psicologia-e-educacao-parte-ii.html>

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