terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Psicologia e Educação – Parte I: Principais questões teórico-práticas da psicologia no contexto educacional

Com esta nova série de postagens desejamos trazer aqui para o blog a relevância da Psicologia Escolar. Apresentaremos primeiramente a questão cardeal a respeito da teoria e da prática psicológica dentro da esfera educacional, buscando esboçar um pouco do que o Psicólogo pode fazer para atender às demandas deste contexto. Com esta série, iremos abordar a questão das queixas escolares e a forma como ocorre sua intervenção do Psicólogo dentro do ambiente escolar. Esboçaremos uma ideia de como a Psicologia Escolar enfatiza uma reflexão referente às noções, não apenas da Psicologia como ciência, mas também da Pedagogia e da Filosofia, promovendo assim progressos dentro do campo da Psicologia Escolar, salientando que, independente do espaço físico disponibilizado para a atuação do profissional, este deverá munir-se de seus conhecimentos e práticas teóricas para o exercício de sua profissão dentro deste contexto. Para uma melhor compreensão do assunto referente à temática educacional também traremos o trabalho de alguns autores para, com isso, demonstramos como eles compreendem o sistema de aprendizagem e como isso pode vir a ocorrer no indivíduo, levando em consideração a relação do homem com o meio em que está inserido.

PRINCIPAIS QUESTÕES TEÓRICO-PRÁTICAS DA PSICOLOGIA NO CONTEXTO EDUCACIONAL

As autoras Tanamachi e Meira (2003) ponderam a respeito do contexto brasileiro, onde se pode notar altos índices de evasão escolar e analfabetismo. A partir do trabalho de Patto (1990) apud Tanamachi e Meira (2003), pode-se perceber que a Psicologia colaborou para o esclarecimento dessa realidade escolar. 
Desde o século XIX, notava-se um desequilíbrio nas condições referentes à classe burguesa e os menos favorecidos, pois nessa época a burguesia conquistou muitas riquezas, formando assim um distanciamento com relação às pequenas conquistas do proletariado. Com isso, a burguesia mostrou se receptiva às solicitações da comunidade para a sociedade, sendo esse um belo caminho para uma participação política saudável da população. 
A Psicologia e a Educação têm se formado com objetivos parecidos, pois o status quo de ambas visa analisar a singularidade de cada pessoa, através do contexto familiar e do meio sociocultural em que estão inseridas. Desta forma, para entender a história da sociedade, a Psicologia deve circular entre teorias de outras áreas de conhecimento como a Filosofia, a Sociologia, dentre outras, constituindo-se assim numa ciência hegemônica, embora esta hegemonidade, de acordo com as autoras, se mostre como algo apenas superficial.  
Percebe-se que só a partir de 1980 essa visão hegemônica dentro da Psicologia Educacional formou uma atitude crítica do papel do psicólogo no âmbito escolar. Nessa época, analisaram-se os pressupostos tanto teóricos, como práticos utilizados pelo psicólogo escolar, desse modo constatando o progresso que o trabalho coletivo demonstrava. Por conseguinte, na época de 1990, buscou-se descrever e explicar as ações do psicólogo escolar, para assim realizar um construto sobre o assunto. 
Atualmente ocorre a inserção de teorias tradicionais dentro desse construto, como por exemplo, o avizinhamento dos trabalhos de Piaget e Vigotsky. Percebe-se a importância desse constante estudo a respeito do trabalho do psicólogo escolar, pois assim ocorre-se a sustentação do trabalho científico. Falaremos mais adiante em uma outra postagem sobre as abordagens educacionais 
Ao observar a Psicologia a partir do materialismo histórico dialético, deve-se enfatizar o contexto sócio-histórico em que a população ou o indivíduo estão inseridos. Agora, ao observar-se o homem através da ótica marxista, o trabalho se enquadra como uma atividade primordial, pois é através dele que o indivíduo pode se conectar tanto com a natureza, como com outros indivíduos, por meio de tais ações faz-se possível a continuação da vida humana, onde estas relações trazem como alvo a lógica dialética. 
Deste modo, tal visão do materialismo histórico dialética, engloba uma observação crítica da sociedade, assim analisa-se o homem, a sociedade e também a ética, tal visão enfoca a vida do homem como um ser social, com isso percebe-se que a visão marxista ampara os estudos acerca da individualidade e da subjetividade humana. 
É necessário observar a formação da individualidade do homem a partir de sua formação histórico-social, assim como Leontiev (1978) apud Tanamachi e Meira (2003) esboça em sua obra, mostrando como numa sociedade capitalista ocorrem processos como os de apropriação das objetivações do homem, da comunicação e da educação. Com isso, pode-se observar que a individualidade do homem ocorre a partir de um método de desalienação. 
A alienação do homem começa com a economia e a cultura, que dispõe de dados a respeito dos costumes mentais da sociedade, servindo prioritariamente às classes que detêm o poder, afinal numa sociedade capitalista sempre há dois pólos opostos: os dos que possuem riquezas e os que sofrem com a pobreza. No entanto, essa situação alienadora não será necessariamente algo inacabável, pois sua origem não tem relação apenas com padrões socioeconômicos, então nota-se que para livrar-se de tal alienação o indivíduo deve confrontar-se com o que a provoca. 
Segundo Saviani (2000) apud Tanamachi e Meira (2003), a educação escolar
apresenta-se não apenas como uma concepção burguesa, pois ela passou por processos contraditórios, como por exemplo, o papel da escola e a ação educativa, assim a educação escolar passa a obter uma defesa à garantia de ser mais acessível. Há elementos que garantiram tal local mais acessível, como a seleção de conteúdos apoiando-se a um saber universal; a capacidade dos profissionais; o papel do professor (não apenas como mestre, mas também buscando um trabalho coletivo); e a concepção do ponto escolar. 
De acordo com Giroux (1986) apud Tanamachi e Meira (2003), tais métodos educacionais também sofrem influência da inter-relação entre professor e aluno no ambiente escolar, deste modo o professor se caracteriza como um mediador entre o conhecimento e seus alunos, assim como o conhecimento se faz como mediação entre quem os estudantes, onde a sala de aula deveria se caracterizar como um ambiente que propicia o pensamento crítico. Assim, o processo de aprendizagem de um indivíduo, teria como finalidade que o indivíduo assumisse sua responsabilidade referente ao momento sócio-histórico vivente.
Pucci (1995) apud Tanamachi e Meira (2003), constrói uma teoria atual a respeito do papel escolar, enfatizando uma instrução a respeito das consciências; uma necessidade de enraivecer-se com a realidade, desfazendo-se assim do senso comum; uma busca por liberdade e autonomia; e uma conscientização a respeito de questões como a dominação. 
Segundo os autores, o papel da Psicologia é necessário para o crescimento de um entendimento científico do indivíduo, o qual se faz a partir de sua história social, assim cabe a Psicologia o papel de mediador entre um sujeito e o desenvolvimento de seu contexto histórico cultural, essa mediação não serve apenas para entender como um indivíduo atua, mas também investigar e entender como os indivíduos poderão vir a atuar em tempo futuro. 
Tanamachi e Meira (2003) consideram que tanto Vigotsky como outros autores já citados compreendem a Psicologia a partir de um entendimento filosófico e metodológica, não diminuindo o homem a seu funcionamento psíquico, mas enfatizam a inter-relação entre homem e sociedade, sendo assim o indivíduo não é limitado somente à suas características, ele também pode englobar suas experiências sociais.  
Segundo Vigotsky (1996) apud Tanamachi e Meira (2003), o desenvolvimento
humano está relacionado a questões filogenéticas, ontogenéticas e histórico-social, as quais poderão revelar-se por meio dos procedimentos psicológicos de uma pessoa. Assim, Vigotsky busca compreender o homem, para com isso também compreender como o caráter social pode envolver-se com a psicologia de um sujeito. Mostrando que a mente humana também é capaz de se adaptar às mudanças do meio social através dos processos cognitivos e da capacidade de internalizar conceitos, desta forma o que molda o indivíduo são os processos culturais, resultando posteriormente num processo de individuação. Nesse movimento destaca-se o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, de como ocorre a aprendizagem, a mediação, a concepção das emoções, e a partir disso como acontece a comunicação, fatores estes interligados ao momento histórico cultural em que um indivíduo possa estar inserido. A escola apresenta-se como um agente que promove o desenvolvimento e a aprendizagem, gerando assim novos pensamentos, nessa visão o papel da Psicologia volta-se para como ocorrem tais transformações na formação do sujeito. A consciência ocorre a partir da formação do pensamento e da linguagem, onde o pensamento se origina no campo motivacional.
Percebe-se com os apontamentos de Tanamachi e Meira (2003) que, tanto na esfera educacional, como na psicológica, o alvo seria preparar o indivíduo para que ele seja capaz de dispor de um pensamento crítico. Pode-se observar isso no campo educacional, com o trabalho em relação ao aluno e o que ele pode vir a desenvolver, tendo aqui o professor um papel fundamental de mediador. Já no campo da psicologia, se traça uma interpretação a respeito das metodologias utilizadas e como eles afetam o comportamento do aluno. Analisa-se também o contexto que estão inseridos, não delimitando o olhar apenas para o ambiente escolar, mas sim para a sociedade como um todo e como ela pode vir a interferir nesse processo. Então se vê que a educação é algo de extrema importância na formação de um indivíduo, enquanto a psicologia mostra-se fundamental para entender e analisar a dinâmica da aprendizagem, desse modo, a Psicologia Escolar situa a importância do psicólogo e a ressignificação de seu lugar. 

REFERÊNCIA

MEIRA, M. E. M.; TANAMACHI, E. R. A atuação do pensamento crítico em
psicologia e educação. In: MEIRA, M. E. M.; ANTUNES, M. A. M. (Org.). Psicologia
escolar: práticas críticas. São Paulo, Casa do Psicólogo, 2003. p. 11-59.

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COMO CITAR ESTA POSTAGEM

FERREIRA, A. C. C.; PEREIRA, J. K.  Psicologia e Educação – Parte I: Principais questões teórico-práticas da psicologia no contexto educacional. Curitiba, 26 fev 2019. Disponível em:  <https://psiqueempalavras.blogspot.com/2019/02/psicologia-e-educacao-parte-i.html>

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