sexta-feira, 4 de novembro de 2016

"A Abordagem Simbólica" de Edward Whitmont

Este trabalho foi um fichamento do texto “A abordagem simbólica” de Edward C. Whitmont realizado para a disciplina Psicologia Analítica, no 4º semestre da graduação. O texto fala um pouco sobre a abordagem analítica, esboçando os conceitos a respeito dos símbolos e mostrando a incapacidade do homem de compreender a vida de maneira inteiramente raciona e que os simbolismos são muitas vezes incompreensíveis ao homem.

A ABORDAGEM SIMBÓLICA

      No capítulo “A abordagem simbólica” do livro “A busca do símbolo”, Whitmont destaca o fato do simbólico se apresentar de maneira útil dentro da sociedade, pois com ele se pode abranger o que não é racional e lógico, utilizando assim de aspectos intuitivos de um indivíduo – prática esta utilizada pela psicologia analítica, iniciada por Jung. A utilização de símbolos pode ser vista como uma ferramenta útil para a compreensão da psique humana que assim como os átomos da física, não são objetos físicos que possam ser vistos ou tocados e, ao mesmo tempo, diferentemente dos átomos, a psique sequer pode ser submetida a testes de laboratório ou avaliações estatísticas, assim sendo, a única forma a qual se pode aproximar a compreensão sobre a psique seria explicá-la de maneira simbólica. O autor faz uma comparação entre um arquétipo e um átomo, afinal os dois precisão de uma descrição detalhada de suas estruturas e suas existências são deduzidas através de informações observáveis. Posteriormente o autor compara a psique a um átomo, mostrando que eles não podem ser vistos ou tocados, mas se diferenciam, quando a psique não pode ao menos ser testada num laboratório. Fala-se da psique de maneira indireta, notando modelos de comportamentos humanos, para poder supor um certo padrão, que pode ser apresentado de maneira simbólica (p. 15).
      Estas imposições decorrentes do pensamento abstrato e racional estabelecido, de maneira geral, entre os indivíduos ao longo dos tempos e o fortalecimento dado às práticas que recorrem à lógica e a razão que, de certo modo, acabavam por minimizar a importância dos aspectos emocionais e intuitivos do homem, dando espaço demasiado às necessidades externas e negligenciando as necessidades internas, que passariam a ter importância secundária dentro desse racionalismo extrovertido vigente, tornando tudo àquilo que não é consciente primitivo demais à compreensão. Assim sendo, uma abordagem simbólica pode regular um conhecimento que é intuitivo ou imaginário, até mesmo a sensação de algo. O autor ressalta a dificuldade que pessoas contemporâneas tendem a sofrer com este campo, pois hoje se é valorizado o pensamento racional, tendo como mola propulsora o positivismo, que enfatiza o fato e a lógica, o que acabou deixando de lado os instintos e as emoções humanas. Com isso ele nos mostra o dilema da vida contemporânea, na qual o indivíduo reprime suas emoções, dando importância ao lógico, porém não consegue lidar desta maneira lógica com suas dificuldades essenciais. Esta exacerbação do lógico pode resultar em neuroses tanto individuais como de massas, podendo ser a razão de vários vícios, como o uso em excesso de álcool, drogas, trabalho e assim por diante. O autor vem mostrando que esta falta de sensibilidade, pode acarretar num desequilíbrio psíquico (pp. 16-17).
      O símbolo seria, então, o caminho ao qual a mente humana teria de expressar tais conceitos até então desconhecidos. Não é um signo que representa algo conhecido e compreensível, mas sim um símbolo que envolve aquilo que é desconhecido, ele é “algo supra-humano e apenas parcialmente concebível”. Whitmont mostra que não se deve dar total importância as questões lógicas da vida, mas também as suas significações. Então esta abordagem mostra algo além, como uma espécie de analogias ou parábolas. O autor fala da sintomática, que visa o enquadramento do paciente através de uma manifestação sexual especifica, por exemplo, e que definirá se o sujeito em questão estará dentro ou fora da esperada normalidade. Os sintomas de um indivíduo podem apresentar um desvio da normalidade que podem proporcionar uma elocução misteriosa para a psique, assim podendo indicar um trajeto para a normalidade individual (pp. 18-20).
      Os símbolos espontâneos formados no inconsciente, na metodologia analítica proposta por Jung, não devem pressupor que algo é de determinada forma, mas sim que se analise o que significam essas analogias feitas de forma inconsciente, “que correspondem às leis estruturais da emoção e do conhecimento intuitivo”. Para Jung estes símbolos formados, por exemplo, em sonhos, não eram produtos somente de desvios na sexualidade normal do indivíduo, esta seria apenas mais uma das hipóteses, mas não a principal como sugeria a psicanálise tradicional ou a abordagem sintomática, que sugeria um desvio ou erro diante de “como as coisas deveriam ser” (p. 19).
      Whitmont cita o caso de um paciente e fala de como esta mudança de olhar conseguiu ajudar o sujeito, pois ele deixou de ver apenas imagens sintomáticas e começou a ver pistas para uma vida além delas. O autor cita algumas imagens que o sujeito sonha e mostra como estas imagens vieram do inconsciente para o consciente cheias de significações, mostra também que isto não ocorre de maneira casual, mas sim acontece. Sendo este simbolismo uma função básica para o indivíduo, desta forma não podendo ser simplesmente reprimida pelos dias atuas – devido ao racionalismo – caso isso ocorra o indivíduo poderá apresentar uma série de dificuldades (p. 22).
      O autor mostra que para Heyer essa depreciação do simbólico ocorra devido a uma predisposição à visão psiquiátrica. Agora Piaget faz uma diferenciação entre pensamento dirigido e pensamento autista, sendo o primeiro ligado a inteligência ao consciente e ao que é real, já o segundo estando no subconsciente, sendo incomunicável para a linguagem por trazer imagens, estando ligadas as manifestações oníricas individuais. Então o autor fala como Piaget ao fazer esta diferenciação desvaloriza o simbólico utilizado do nome “autista” para descrevê-lo trazendo assim a idéia de algo patológico. Nesta diferenciação pode-se perceber o preconceito sofrido por tal abordagem (pp. 22-24).
      É evidente a desvalorização do pensamento imagético, dentre vários exemplos, como o “pensamento autista” colocado por Piaget, onde ao carregar consigo o termo “autista” indica algo de inferior e mesmo patológico ao lado do “pensamento inteligente” que está adaptado à realidade de (novamente) “como as coisas deveriam ser” e traz consigo a possibilidade de que possa ser comunicado pela linguagem, diferente do pensamento autista, que não se faz compreensível pela linguagem e sim através de símbolos e imagens construindo uma linha de pensamento que trabalha mais com associações do que com a lógica propriamente dita. Whitmont fala que em casos de repressão neurótica os pensamentos que o individuo tem freqüentemente podem ser substituídos por imagens, estas podendo se distorcer. Esses episódios podem se encaixar em padrões de anormalidades, porém este funcionamento também pode se acomodar como parte da normalidade. Com isso, o autor faz uma crítica ao estudo na normalidade a partir da anormalidade, defendendo que o normal e não o anormal deveria ser o modelo de compreensão (pp. 23-24).
      Para o pensamento introvertido, a preocupação se encontra em desenvolver sua experiência interior e em plano secundário estaria a adaptação à realidade externa e essa atitude não seria necessariamente autista ou patológica. De certo modo, a abstração seria uma “tentativa de objetivar através do afastamento da realidade psíquica e emocional”, afastando o indivíduo de suas emoções em uma tentativa de adequar-se ao mundo externo. O autor também mostra a influência que Kant exerce na interpretação do simbólico, pois ele falava do significado não se restringir somente a causalidade, mas sim da importância da intuição (p. 25).
      As imagens podem servir para complementar ou compensar algo que possa estar faltando ao indivíduo ou elas vem trazendo mensagens do plano inconsciente para o consciente, sendo que, Whitmont aponta, é importante ressaltar que o consciente não é a totalidade da psique para que se compreenda o conceito de que a unidade básica do funcionamento mental é a imagem e que é através da abstração que um indivíduo afasta sua consciência da reação psíquica que estaria emocionalmente carregada, como se fosse uma “construção de ilhas de segurança” criadas pelo consciente para proteger-se dos impulsos emocionais. Whitmont exemplifica isso fazendo uma comparação do simbólico com o organismo humano, mostrando que assim como as células sanguíneas são agentes básicos e fundamentais de um organismo, as imagens também o são. Geralmente o indivíduo separa do consciente a reação psíquica impregnada de emoção, sendo esta uma colocação interessante, pois isto mostra que o consciente não é a completude do ser (p. 26).
      Então Whitmont mostra que o consciente pode não se apresentar como a parte fundamental de uma pessoa, mas são nele que inicialmente ocorrem as idéias sensórias ligadas as imagens. A psique utiliza das mesmas formas utilizadas para demonstrar o meio exterior e posteriormente o interior de um indivíduo, afinal este inconsciente se apresenta de maneira “icognoscível” e necessita de conceitos abstratos de origem externa para poder se expressarem. Isso pode ocorrer através de associações, como uma forma nova de percepção utilizando da intuição para obter um significado, quando uma pessoa se deixa fazer esta interpretação, ela acaba deixando de lado o seu mecanismo lógico, que atualmente se encontra como uma regra a ser seguida, fazendo uso de um modo de vida que há tempos tem sido domado (pp. 27-28).
      O autor mostra que dentro da abordagem simbólica nossa compreensão puramente lógica não nos auxiliará a ir além. Afinal nenhum padrão indicado pelo homem pode ser tomado como inteiramente verdadeiro, até mesmo dentro desta abordagem, quando se falam de uma energia psíquica denominada “arquétipos” que se mostra como uma raiz que envolve os fenômenos que ultrapassa o consciente. É certo que quanto mais se progride na compreensão (ou em sua tentativa) dos fatores interiores e íntimos da psique, se percebe que não são mais suficientes apenas as explicações lógicas, pois elas não auxiliam na compreensão deste algo a mais que não é, definitivamente, menos real que este mundo de “objetos classificáveis e diretamente observáveis”. Whitmont mostra que para isso é necessário aceitar que nem sempre nossa consciência é capaz de compreender tudo. Esta abordagem, que revela energias psíquicas, mostra a incapacidade do homem de compreendê-la de maneira racional remetendo ao simbolismo que muitas vezes são incompreensíveis para o homem. Deste modo nota-se que não há uma verdade absoluta, ou seja, o que é verdadeiro não é somente o racional, causal e lógico, afinal todo conceito, toda termologia é temporária sempre virá a ser substituída, por apresentar um caráter experimental (pp. 29-32).

REFERÊNCIA

WHITMONT, Edward C. A abordagem simbólica. In: ______. A busca do símbolo: conceitos básicos de psicologia analítica. 6. ed. São Paulo: Cultrix, 1999. pp. 15-33.

______

COMO REFERENCIAR ESTA POSTAGEM

FERREIRA, A. C. C. & PEREIRA, J. K. “A Abordagem Simbólica” de Edward Whitmont.  Curitiba, 04 nov. 2016. Disponível em: <http://psiqueempalavras.blogspot.com.br/2016/11/a-abordagem-simbolica-de-edward-whitmont.html>

Nenhum comentário:

Postar um comentário