sexta-feira, 23 de novembro de 2018

A saúde física e mental do trabalhador - Parte 3: Apontamentos acerca da realidade do trabalho no Brasil

Essa é a terceira postagem da nossa série sobre a saúde do trabalhador. Nesse texto, iniciamos as nossas reflexões acerca das diferentes condições de trabalho ao redor do mundo, começando com o Brasil, que apresenta uma grande disparidade social, onde nem todos os programas de qualidade de vida e empregatividade estão ao alcance da população. Nas próximas postagens, seguiremos falando um pouco sobre o conceito de promoção das condições de trabalho seguras e saudáveis está muito distante do compromisso ético para com o sujeito em outros culturas diferentes da nossa.

CONSIDERAÇÕES SOBRE O TRABALHADOR BRASILEIRO

No Brasil, de acordo com Tolfo e Piccinini (2001), nota-se uma incompreensão sobre a temática da saúde no ambiente de trabalho, quando associado com a competitividade nesse mercado. As empresas não vêem os programas de qualidade de vida como uma boa estratégia de gestão, considerando na maioria das vezes somente ações de medicina do trabalho como estratégia de qualidade de vida do trabalhador, mas não associando a melhoria de clima organizacional e aos programas de qualidade em geral. Sendo assim, o que prevalece é a funcionalidade do trabalhador e não seu bem estar psíquico e social.
Segundo França (1996), as empresas entendem os programas de qualidade de vida como custos que não trazem nenhum resultado expressivo para a organização, isto ocorre pela falta de planejamento estratégico nos projetos de qualidade de vida, que são vistos mais como custos do que como investimentos.
Ainda de acordo com França (1996), considera-se que os problemas de saúde do trabalhador são vistos como ponto secundário, ressaltando a produtividade como uma política estratégica muito comum nas empresas brasileiras. Se o indivíduo está produzindo ao máximo esse é o ponto que interessa, não há consideração se este está a produzir bem e com qualidade, o desgaste físico e mental decorrente de uma jornada de produção depreciativa e exaustiva impacta na qualidade de vida do trabalhador, entretanto, esse ponto ainda é visto como um “mal necessário’’. 
A falta de reconhecimento dessa variável diminui a expressão de talentos advindos da motivação, diminuindo drasticamente a competitividade da empresa. Na realidade brasileira, pondera-se que os programas de qualidade de vida como os que estende benefícios a familiares, incentivo educacional entre outros, apresentam custos elevados e a realidade do país é de muitas diferenças sociais.
Já de acordo com o anuário do IBGE a média salarial da população é de até 2 salários mínimos, ressaltando esses valores e o custo de vida geral no país, os baixos salários também representam um ponto de queda da qualidade de vida do trabalhador brasileiro. Entretanto, ainda na contramão da execução das efetivas práticas de qualidade de vida no trabalho, rever a remuneração diminuindo as diferenças nos quadros de cargos e salários é algo que se mostra incogitável dentro da ótica empresarial, ocorrendo diversas vezes o uso de incentivos ligados a produção.
Voltando a Tolfo e Piccinini (2001), vê-se que algumas empresas observam  suas perdas devido à faltas em excesso pelos funcionários, ou absenteísmo, o que acaba transferindo a responsabilidade das ações de qualidade de vida para o setor de saúde e medicina do trabalho. No entanto, não é dada a devida importância para esse setor, então como espera-se que a medicina do trabalho possa promover melhorias? É imprescindível promover mudanças nesse setor, para que assim ocorram cuidados, visando melhorar o clima organizacional, podendo assim evitar ausências frequentes dos funcionários, para isso, pode-se utilizar até mesmo da ajuda de centros de atenção biopsicossocial. Todavia, essas ações preventivas e reparadoras ainda configuram-se como um cenário inicial no Brasil. 
Vasconcelos (2001) também ressalta essa idéia preventiva ao falar que para empresa possuir um bom desempenho é preciso considerar a importância da qualidade de vida no trabalho, pois se o indivíduo não for positivamente motivado e incentivado dentro do ambiente de trabalho isso irá comprometer todo o processo de produção da empresa. Por isso, é necessário que a empresa se preocupe com o bem estar do trabalhador lhe proporcionando um ambiente de trabalho seguro, respeitável e saudável.
Vemos que esse comportamento empresarial em relação a saúde e bem-estar do trabalhador no Brasil é cultural, essa lógica de remediar, também se reflete na forma de gestão de pessoas no Brasil, enquanto a lógica estiver focada em uma produção cega, existirá falta de qualidade de vida do trabalhador.
De acordo com Weschsler (1996), faz-se importante haver uma construção científica que depende do desenvolvimento no campo epistemológico a respeito da psicologia em demais contextos e para isso, é necessário que o psicólogo tenha uma formação adequada para atuar em uma determinada área. O psicólogo cumpre um papel de caráter social na área em que se insere, preocupando-se com o ajustamento dos indivíduos inseridos neste meio, e funcionando como um agente que visa promover mudanças. Seu trabalho pode ser articulado com todos os outros cargos dentro de uma instituição, desenvolvendo um produto de saúde mental coletivo que envolve as relações sociais concretas que existem neste contexto.

REFERÊNCIAS

FRANÇA A. C. Indicadores empresariais de qualidade de vida no trabalho. Tese de doutorado, São Paulo, 1996

TOLFO S. R., PICCININI V. C. As melhores empresas para trabalhar no Brasil disjunções entre teoria e prática. São Paulo, 2001.

VASCONCELOS, A. F. Qualidade de vida no trabalho: origem, evolução e perspectivas. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 08, nº1, jan./mar., 2001

WESCHSLER, S. (Org.). Psicologia: pesquisa, formação e prática. Campinas: Alinea, 1996.

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COMO REFERENCIAR ESTA POSTAGEM

FERREIRA, A. C. C.; PEREIRA, J. K. A saúde física e mental do trabalhador - Parte 3: Apontamentos acerca da realidade do trabalho no Brasil. Curitiba, 23 nov 2018. Disponível em: <https://psiqueempalavras.blogspot.com/2018/11/a-saude-fisica-e-mental-do-trabalhador-3.html>

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